28 de fevereiro de 2008

...pedaços..



- Só te peço a tua pele.-implorou Ela.
- Só isso?- perguntou Ele.

1 de fevereiro de 2008

Impulsos

Sentia-se presa dentro da sua carne, sufocada com aquela vida amarga, entontecida pelo tédio, enjoada com o odor revoltante do suor desse homem que ressonava a seu lado… um desconhecido a quem chamava marido…Também ela não se reconhecia na imagem que lhe acenava ao espelho. As primeiras rugas teimavam a evidenciar-se exibindo uma vida que não escolhera, cujas malhas a tinham enredado. Agora tomara consciência dos anos volvidas e do vazio que tinha…Vagamente da sua memoria emergiam reminiscências do que fora, do ser atraente que amarrava os olhares daqueles que a rodeavam. Agora estava cansada de não voltarem o olhar para Ela, de se sentir anónima… Precisava de se sentir de novo desejada, de saborear o travo adoçicado no paladar a Poder..o poder de fazer os outros se virarem por sua causa…
Naquela noite, um estranho calor envolvia-lhe a pele, assediava-lhe a mente.. nao conseguia dormir por mais que tentasse ou desejasse… Ja o seu marido estava imerso num sono profundo e ruidoso, ocupando a maior parte da cama… Queria gritar, queria viajar, queria VIVER.
A combinação de renda desgasta pelo tempo, ficou amarrotada no chão do quarto, transbordando um desejo profundo de abandonar essa rotina diária angustiante. Consciente e silenciosamente vestiu-se e saiu. A escuridão da noite espessa e brilhante segredava-lhe promessas irresistíveis de prazeres incandescentes e obscuros.
Um vestido negro acetinado contornava-lhe o corpo, os lábios estavam cuidadosamente pintados, o rosto inquieto, o olhar profundo.. Não sabia o que desejava ou fingia-o… Será que nessa noite, alguém voltaria o olhar procurando o seu? Despertaria a sua carne algum desejo de toque? Quereria alguém devorar-lhe a alma? Enquanto sorvia o gin tónico naquele lugar atormentado por fumo de cigarros cansados, algo lhe tocou invisivelmente a pele…Eram olhares sedentos e famintos de seres masculinos que a observavam curiosamente… Em vez de se sentir receosa ou retraída, uma estranha segurança e sensação de poder arrastou-se dentro das suas veias. Propositadamente cruzou o olhar com um desses seres. A sua carne elegeu um deles. Seria aquele a sua vítima. Deveria ser assim que se sente um predador antes de devorar a sua presa, que será a sua refeição. Olhares entrecruzados, corpos aproximam-se, algumas palavras trocadas, muda-se o cenário, uma cama será agora o palco… Outrora seria incapaz de imaginar que ela encarnaria a personagem que veste naquele momento.. como era deliciosamente incrível aquela sensação de dominar, enfeitiçar um ser, po-lo à sua mercê, louco de desejo, ludibriá-lo…fazê-lo implorar por mais… E foi tão fácil! Mas isso não lhe bastava, queria marcá-lo, carne, mente até ao osso, violentá-lo…