20 de maio de 2008

identidade

Seremos gotas da chuva, cinzas, pó, nada irá restar por isso o que mais ambiciono é tatuar, deixar a minha marca debaixo da pele, a tua, a nossa…. Escolhi-te, seleccionei-te, entreguei-me, devastei-me, violentei-me, magoei-te, feri-me, enlouqueci-nos… Eu não preciso que acredites nestes pedaços pseudoliterários, nestas euforias linguísticas quero sim que acredites no meu olhar, nas minhas mãos que te agarram e te procuram, na minha saliva que te trinca, que te saboreia, que precisa de ti sempre…não sei quanto tempo será este “sempre”, espero que o seja muito e muito tempo…Quero que me queiras debaixo da tua carne, dentro dessa maquineta que saltita no interior do teu corpo comandando todas as tuas veias e bombeando todos os litros do teu sangue…Preciso que me queiras alojar dentro de ti exactamente como eu sou sem sombras, sem fantasmas. Sei que eu consigo ser assustadora, ora inocente, ora doce, ora agressiva, ora lasciva, ora louca, ora selvagem, ora moralista, ora exigente, ora acusadora… mas eu não consigo ser de outro modo! Se me queres, vais ter que me ter exactamente assim…
Com todos estes seres que coabitam energicamente dentro do meu corpo descontrolando a minha mente, ferindo por vezes esta minha alminha, tenho uma certeza a de que eu me quero sempre encontrar nesses teus imensos olhos esverdeamente azuis…

4 de abril de 2008

Sem título

Nesta existência imprevisível, sobressaltada de pequenos tudos e gigantescos nadas, deambula-se sem saber se conseguiremos o que queremos e se teremos tempo de fugir do que tememos. E de noite tantas vezes se aterra numa sórdida solidão, ardendo-se em desejos e angústias. Loucos? São os que vivem. Néscios? Os que sobrevivem. Insaciáveis? Aqueles que se alimentam pela sede de VIDA. Infelizes? Essa torrente de seres aparentemente vivos que escorregam por essas calçadas no rebolar lento dos dias de mãos dadas às suas lamentações e frustrações.
O mundo tresanda a fraquezas, a medos e a amargas decepções.. Importa COLECCIONAR AÇUCARADAS HISTÓRIAS de todas as nossas viagens, dos caminhos em que felizmente tropeçamos e inalamos indescritiveis odores.. Importa DESPIR OS MEDOS. DERRUBAR AS BARREIRAS DA PELE.. DESFAZER AS GRADES QUE ESCONDEM AS MENTES...DEAMBULAR POR TODO O MUNDO..VIVÊ-LO.. TATUAR...ENCHER A RETINA DE IMAGENS QUENTES, DOCES, FLAMEJANTES, HIPNOTIZANTES...

6 de março de 2008

auto-retrato

Certa vez, perdidos no reino íntimo e húmido do teu quarto agarraste a minha mão com toda a força do teu impulso. Assustaste-me. Puxaste-me para diante do velho espelho do armário de madeira dorida. Lado a lado, obrigaste-me a fixar a nossa imagem, reflectida. Do outro lado, acenavam-nos dois seres aparentemente iguais.
- Vês?- perguntaste-me roucamente emocionado.
- O quê?- retorqui desnorteada pois não entendi o que pretendias.
- A nossa pele resplandece um suave murmúrio de luz...
Apaixonei-me por esse retrato extraordinário.

28 de fevereiro de 2008

...pedaços..



- Só te peço a tua pele.-implorou Ela.
- Só isso?- perguntou Ele.

1 de fevereiro de 2008

Impulsos

Sentia-se presa dentro da sua carne, sufocada com aquela vida amarga, entontecida pelo tédio, enjoada com o odor revoltante do suor desse homem que ressonava a seu lado… um desconhecido a quem chamava marido…Também ela não se reconhecia na imagem que lhe acenava ao espelho. As primeiras rugas teimavam a evidenciar-se exibindo uma vida que não escolhera, cujas malhas a tinham enredado. Agora tomara consciência dos anos volvidas e do vazio que tinha…Vagamente da sua memoria emergiam reminiscências do que fora, do ser atraente que amarrava os olhares daqueles que a rodeavam. Agora estava cansada de não voltarem o olhar para Ela, de se sentir anónima… Precisava de se sentir de novo desejada, de saborear o travo adoçicado no paladar a Poder..o poder de fazer os outros se virarem por sua causa…
Naquela noite, um estranho calor envolvia-lhe a pele, assediava-lhe a mente.. nao conseguia dormir por mais que tentasse ou desejasse… Ja o seu marido estava imerso num sono profundo e ruidoso, ocupando a maior parte da cama… Queria gritar, queria viajar, queria VIVER.
A combinação de renda desgasta pelo tempo, ficou amarrotada no chão do quarto, transbordando um desejo profundo de abandonar essa rotina diária angustiante. Consciente e silenciosamente vestiu-se e saiu. A escuridão da noite espessa e brilhante segredava-lhe promessas irresistíveis de prazeres incandescentes e obscuros.
Um vestido negro acetinado contornava-lhe o corpo, os lábios estavam cuidadosamente pintados, o rosto inquieto, o olhar profundo.. Não sabia o que desejava ou fingia-o… Será que nessa noite, alguém voltaria o olhar procurando o seu? Despertaria a sua carne algum desejo de toque? Quereria alguém devorar-lhe a alma? Enquanto sorvia o gin tónico naquele lugar atormentado por fumo de cigarros cansados, algo lhe tocou invisivelmente a pele…Eram olhares sedentos e famintos de seres masculinos que a observavam curiosamente… Em vez de se sentir receosa ou retraída, uma estranha segurança e sensação de poder arrastou-se dentro das suas veias. Propositadamente cruzou o olhar com um desses seres. A sua carne elegeu um deles. Seria aquele a sua vítima. Deveria ser assim que se sente um predador antes de devorar a sua presa, que será a sua refeição. Olhares entrecruzados, corpos aproximam-se, algumas palavras trocadas, muda-se o cenário, uma cama será agora o palco… Outrora seria incapaz de imaginar que ela encarnaria a personagem que veste naquele momento.. como era deliciosamente incrível aquela sensação de dominar, enfeitiçar um ser, po-lo à sua mercê, louco de desejo, ludibriá-lo…fazê-lo implorar por mais… E foi tão fácil! Mas isso não lhe bastava, queria marcá-lo, carne, mente até ao osso, violentá-lo…

23 de janeiro de 2008

Piano...

Pudesse ter sido eu concebida em branco e em preto.. Ser as teclas que intimamente tu tocas com a suavidade e intensidade dos teus dedos, deixando esfumar pedacinhos incandescentes da tua alma para dentro de mim…Pudesse ser eu as teclas nas quais tu deliras, tu te derramas, tu te excitas...
Como eu queria ser o piano que majestosamente está no centro do teu espaço, perdão do teu reino e assim poder incessante e ansiosamente aguardar que a qualquer fragmento de segundo viesses sentar-te junto de mim… Viesses para me tocares, arrastando a tua voz açucarada, arrancando de mim todos os decibéis que quisesses.. estridentes, graves e agudos conforme as tuas emoções que correm em estado liquido nas tuas veias...Pudesse ser o teu piano para poder saber tudo de ti, devorar tudo o que há em ti.

..there are images that realy last seconds but will be forever kepted in her memory, closed inside her white skin like a invisible tatoo...