11 de novembro de 2007

Play...

A...Arcade Fire.. PJ Harvey...Radiohead... Bloc Party...Sigur Rós..expresso devotamente a minha eterna gratidão pela sua existência..por me acompanharem nas palavras que derramo de dentro da minha linfa.. por penetrarem meus timpanos em todas as minhas viagens terrestes e extraterrestes..por testemunharem os meus actos de amor, loucuras, devaneios, tatuagens..por esperarem comigo a chegada de Morfeu, o deus do sono naquelas noites em que nao consigo dormir..
PLAY é a garantia de açucarados momentos em que mato o tédio e o decorrer angustiante do tempo..
Obrigada!

5 de novembro de 2007

Por favor cospes pedaços da tua alma no teu beijo???

portais

O Eterno Dilema Masculino

Trancaram a porta. Empurra-a contra os azulejos pardos e puxa-a para si sentindo o seu hálito quente…Imediatamente encosta os seus lábios aos d’Ela abrindo-os abruptamente e enfia a língua sôfrega na sua boca, disposta a lamber, engolir e devorar tudo o que lá encontrasse. Queria sussurrar-lhe, gritar-lhe o que sentia assediar-lhe a mente e o corpo nesse preciso instante através daquele acto inconsequente e húmido. O beijo. Aquele beijo, sua grafia de bocas e copulação primitiva de línguas. Esse ritual onde se misturam as salivas (com seus exércitos de germes) e se cospe por vezes, pedacinhos substanciais das almas dos seres em palco.
Porque o desejo é endovenoso, coagula, aquece e as enormidades das carnes não escolhem espaços, logo as mentes e as carnes se precipitam em direcção ao prazer... Adulteram-se os olhos, incendeiam-se aguadas as peles com aquelas artérias inchadas e palpitantes que imploram: "Bite-me, please bite-me and don't stop!".
Lá fora, entre o tilintar de copos, as fumaças de cigarros sonolentos e odores de corpos suados e abusados nesse café do fim da rua, ele esperava-as impaciente entregue ao eterno dilema de “Porque razão é que Elas vão sempre juntas à casa de banho?!"

22 de outubro de 2007

Curiosidades...

A primeira vez que A viu, Ela estava completamente ausente embora o seu corpo preenchesse o banco do jardim. Pedacinhos da sua mente tropeçavam na estratosfera entrelaçados às palavras do livro que digeria. Nem notou que Ele a observava com curiosidade de louco. O que mais puxou avidamente olhar d'Ele, foram as suas languidas veias que sobressaíam no manto branco da pele. Apaixonou-se por essa imagem...rios pulsantes de vida percorriam-lhe o corpo arrastando em estado liquido odores de histórias intensamente respiradas. As veias d’Ela agitavam-se assim como se fizessem troça do desejo d’Ele.
O amor pode nascer apenas de uma insaciável curiosidade…

11 de outubro de 2007

Armas em punho

Sempre tivemos medo delas...Das palavras. São perigosas, traiçoeiras... Daí que se entenda o trabalho obssessivo das censuras, para não deixar que uma dada palavra escape das malhas da repressão. O uso de certas palavras poderão atingir a consistência de um sistema.
Entre Eles nunca houve palavras interditas: comunista, revolta, liberdade, orgasmo, transe... Têm o gosto infantil de as usar e de as repetir como se fossem eles a inventá-las e a usá-las pela primeira vez.
Mas, foi precisamente por algumas palavras serem tóxicas que se golpearam, encurralaram e envenenaram... Um dia, Ela chegou a desejar que Ele lhe escrevesse um poema de amor apesar de dizerem que os poemas sobre a arte do amor são ridículos e estão fora de moda. Nunca o fez. Ainda bem, talvez porque se realmente ele o tivesse feito, Ela sentiria que o seu amor,ou qualquer coisa de intenso que o liga a si, era pequeno demais para caber inteirinho num punhado de linhas poéticas. E tudo se desmoraria sobrando uma sensação de vazio...Entrega-se à ideia de que o seu amor, ou seja lá o que for de irresistivel que os une é impossível de ser demonstrado com palavras, virgulas, pontos finais e regras gramaticais. A verdade absoluta que impera e que Ela ama religiosamente é o “Nós” que construiram com a argamassa da sua saliva, suor, lençol, pele, carne, mente, nudez, silêncio e sangue.

19 de setembro de 2007

Ícaros

Domingo à tarde, incham as ruas da cidade com magotes de casais desenxabidos. Vêm empanturrar-se nas pastelarias e adquirir os últimos artigos em promoção e da última moda ou simplesmente deambularem como moscas tontas para matarem à paulada o tempo. Depois à frente da TV afundam-se no sofá de couro (ou imitação vulgar).
Entre a garfada de esparguete e o golo de vinho tinto, os espectadores, perante estes tempos inimagináveis de atrocidades, soltam comentários esganiçados de consternação e piedade perante as imagens de famintos ossudos e injustiçados em poças coalhadas de sangue. Criticam o gatuno do árbitro ou o corrupto do político beijoqueiro de velhotas reumáticas e miúdos de bochechas escarlates... A noite do telejornal é assim rica em emoções fortes! E afinal não é do que andamos todos à procura?
Não importa a espécie, todos querem de qualquer modo, se sentirem e VIVEREM. O problema é que se uns se contentam em colher migalhas de uma felicidade amorfa e, nesta existência suada e imprevisível caminham de sorrisos radiantes, atropelados entre os dentes, simultaneamente que os olhinhos luzem nas órbitas por qualquer conquistazinha. Outros estão condenados à ambição desmedida de Ícaro, a de se quererem elevar mais alto independentemente dos gritos agonizantes e fatais que daí possam resultar. Alimenta-os a necessidade de sentirem o sangue a escorrer espesso, ardente e sufocante nas veias, por quererem atingir por um instante o auge.
Ter medo afinal de quê? Não temos já um determinado prazo de validade tatuado em brasa desde a concepção? Se vamos morrer de qualquer modo porque não com a retina engasgada de doces e suculentas imagens e a com a nossa carne exalando histórias prenhes de néctares e perfumes????????????

30 de agosto de 2007

Diálogo

Ela- Fala-me de ti!
Ele- Tenho-me perdido nas terras de nenhures e algures... Acho que até te já vi por lá... Desconheço por vezes os corpos que passam por mim. As mentes que são apêndices destes fogem imediatamente de mim quando tento explorá-las para quem sabe um dia, vir-me nelas a achar-me... O máximo que consigo fazer é resgatar-lhes uma peça ou uma chave. Gosto de fazer amor no meio de flores rasteiras azuis. O perfume da parte do corpo de algumas mulheres é para mim ópio..
Ela- Um vício a que sucumbes?
Ele- A que que me devoto completa e religiosamente...
Ela- Sabes o nome de todas elas?
Ele- Não, a maior parte delas funciona como instrumentos descartáveis. Apenas procuro o prazer, o sabor e o seu cheiro momentâneos.
Ela- Mentes-lhes?
Ele- Acho que só tenho vocação para mentir e enganar este tipo a que chamo "eu" e que me acena ao espelho, mas tenho evitado...
Ela- O quê? Espelhos?
Ele- Sim e as dívidas também..
Ela- Jogas?
Ele- Comigo e com os corpos.
Ela- Porquê?
Ele- Só quero viver, descobrir, extasiar, profanar e possuir para que a morte não apague por completo a minha existência espalho-me e semeio-me por aí. Acreditas nos acasos e coincidências?
Ela- Sim, deixemos a crença no destino para as marionetas do tempo que são a maior parte desses seres que somente existem e sobrevivem...

Porquê ter a chave se a porta está aberta?

Portas entreabertas...

Sempre tive um fascínio por portas...
Falo de algumas que se encontram em algumas cidades como Lisboa, Roma, Barcelona, entre outras..
Portas monumentais? Imponentes? Antigas?Históricas?Pequenas?Frageis?Concebidas em vidro?Madeira?Aço?Iluminadas?Obscuras...?
Mais do que um dado traço artístico ou histórico, mais que a beleza ou originalidade de certas portas atrai -me sim o seu interior... Fico entregue a uma insaciável curiosidade...
Que inquilinos deambulam atrás delas? Que tipo de corações pulam no seu conteúdo? Que pecados se entranham? Que gargalhadas se abafam? Quais as histórias escorrem por essas paredes alheias?
Quando por acaso algum desses inquilinos no preciso momento em que passo, destranca uma dessas portas e a abre não hesito em espreitar...

Existirá alguém que nunca tenha ousado espreitar uma porta entreaberta?